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Vitória da Conquista: saiba o porquê da cidade não fazer mais parte da rota de circulação da música autoral


apresentação da banda Zimbra no Teatro Carlos Jehovah. Foto de Nagual Pardo

por Gilmar Dantas Silva

No pós-pandemia, Salvador vive uma explosão de shows e festivais. A cada semana, a capital baiana recebe grandes turnês, festivais e artistas dos mais variados gêneros e circuitos. Enquanto isso, cidades do interior — especialmente Vitória da Conquista, que por muitos anos sustentou uma cena musical vibrante e reconhecida — enfrentam um apagão cultural que tem afastado artistas autorais dos palcos locais.

Esse desequilíbrio não se explica por falta de interesse dos artistas ou de produtores culturais. Ao contrário: o desejo de circular, criar e movimentar a cena continua pulsando. O que mudou foi a viabilidade. Realizar um show autoral em Vitória da Conquista, hoje, tornou-se um exercício de resistência.

Há um conjunto de fatores estruturais que ajudam a entender esse cenário. O primeiro é a precariedade logística. As estradas que ligam Salvador ao interior continuam sem duplicação, o que torna os deslocamentos longos e perigosos. Além disso, os voos entre Salvador e Conquista deixaram de operar aos finais de semana — justamente quando a maioria dos shows acontece —, o que encarece ou até inviabiliza a vinda de artistas, especialmente os que moram fora do estado.

Somam-se a isso os custos de produção em constante alta e a concentração dos recursos da Lei Faz Cultura na capital. Para um projeto no interior competir com as grandes produtoras de Salvador, é necessário não apenas excelência técnica, mas também uma capacidade de articulação política e financeira que muitas vezes foge da realidade dos produtores locais.

A infraestrutura também encolheu. Casas de show emblemáticas do interior fecharam suas portas, e equipamentos públicos como o Teatro Municipal Carlos Jehovah seguem interditados desde 2022. Sem palcos disponíveis, muitos artistas simplesmente não têm onde se apresentar.

O público, por sua vez, também mudou. Há uma crescente dificuldade em tirar as pessoas de casa, especialmente para shows de artistas autorais, que demandam mais do que entretenimento: exigem escuta atenta, envolvimento e disposição para o novo. A cultura do “play” nos streamings e a força dos algoritmos também contribuem para esse isolamento cultural, criando bolhas que desvalorizam a música feita fora dos grandes centros.

Além disso, o desmonte de eventos públicos tradicionais em Conquista, como o Festival de Música da Bahia, o Festival da Juventude, o Festival Avoador, o Conexão Vivo e o Rock Cordel (estes dois últimos não são conquistenses mas tiveram importantes edições aqui), retirou da cidade importantes vitrines para a música autoral. A ExpoConquista ainda acontece, mas perdeu parte de seu papel como espaço de visibilidade para artistas.

A ausência de políticas públicas que compreendam as especificidades do interior e a falta de incentivos da iniciativa privada — que prefere concentrar sua visibilidade nas capitais — completam esse quadro de esvaziamento. Isso sem falar no enfraquecimento da imprensa cultural local e da crítica musical, que historicamente ajudavam a formar público e visibilizar novas cenas.

Nesse contexto, diversos artistas que integravam a cena conquistense nos anos 2010 deixaram a cidade. Nomes como Coral, Guigga, Ana Barroso, Tereza Rachel, Cainã Araújo e Filipe Massimi hoje vivem em outras cidades e têm suas carreiras em ascensão. A artista Assucena, uma das mais importantes vozes da música brasileira contemporânea, é conquistense, mas oficialmente só se apresentou uma vez na cidade. A diáspora artística de Conquista é, ao mesmo tempo, um reflexo do talento local e do abandono estrutural que expulsa criadores.

Apesar disso, algumas iniciativas resistem. O Festival Suíça Bahiana, por exemplo, segue como um dos poucos espaços onde a música autoral, especialmente a novíssima produção brasileira, ainda encontra palco e público no interior baiano. Com quinze anos de existência, o festival tem buscado manter um compromisso com a diversidade musical e com a cena local, mesmo diante de todos os obstáculos logísticos e financeiros.

Mas é preciso mais. A reativação de espaços culturais, a desconcentração dos recursos públicos, a valorização dos produtores locais e a formação de público para a arte que nasce fora do mainstream são medidas urgentes. Do contrário, a Bahia corre o risco de perder não só artistas, mas também a riqueza que só uma cultura descentralizada pode oferecer.

Vitória da Conquista — cidade que já foi referência pela sua efervescência cultural, terra de Glauber Rocha, Elomar e Xangai — não pode aceitar o silêncio como destino.



Com Informações: Blog do Rodrigo Ferraz

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