De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria da população quilombola no Brasil vive em áreas rurais. O suplemento do Censo 2022, divulgado recentemente, revela que 61,71% dos 1,3 milhão de quilombolas residem no campo, enquanto 38,29% vivem em áreas urbanas. Este levantamento é o primeiro a coletar dados específicos sobre a população quilombola, impossibilitando comparações temporais.
O Censo 2022 também destaca que, do total de 203 milhões de brasileiros, apenas 12,6% moram em áreas rurais. A pesquisa do IBGE aponta que a distribuição da população quilombola entre áreas urbanas e rurais é uma novidade, conforme afirmou Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE. Ele destacou que essa característica não se repete em outros grupos étnicos, como os indígenas, que atualmente vivem majoritariamente em áreas urbanas.
As regiões Norte e Nordeste apresentam uma proporção de quilombolas em áreas rurais superior à média nacional. No Norte, 63,40% dos quilombolas vivem no campo, enquanto no Nordeste esse número é de 65,01%. Em contrapartida, regiões como o Centro-Oeste, Sudeste e Sul apresentam percentuais menores, com 31,96%, 47,68% e 45,62%, respectivamente.
Entre os estados, Piauí, Amazonas e Maranhão têm as maiores proporções de quilombolas em áreas rurais, com 87,87%, 84,92% e 79,74%, respectivamente. Já o Distrito Federal, Rondônia, Goiás e Rio de Janeiro apresentam as menores proporções, com destaque para o Distrito Federal, onde apenas 2,95% dos quilombolas vivem no campo.
O levantamento também identificou que Acre e Roraima não possuem localidades quilombolas, sejam urbanas ou rurais.
Condições de Vida
O suplemento do Censo revela que a população quilombola é mais jovem que a média nacional, com uma mediana de idade de 31 anos, comparada aos 35 anos do restante da população. Além disso, a taxa de analfabetismo entre quilombolas é significativamente maior, especialmente em áreas rurais, onde atinge 22,71%, em comparação com 13,28% nas áreas urbanas.
As condições de moradia também refletem desafios significativos. A média de moradores em lares quilombolas é de 3,17, superior à média nacional de 2,79. Em áreas rurais, 6,36% dos quilombolas não possuem banheiro ou sanitário, percentual que aumenta para 7,03% em territórios quilombolas delimitados.
Quanto ao saneamento, 94,62% dos quilombolas em áreas rurais vivem em condições precárias, comparado a 87,20% da média nacional. Em áreas urbanas, 53,61% dos quilombolas enfrentam precariedade, em contraste com 18,71% da população geral.
Fernando Damasco, do IBGE, enfatiza a necessidade de políticas públicas que considerem a especificidade da população quilombola, majoritariamente rural, mas com um contingente urbano significativo. Ele sugere que ações governamentais devem focar em crédito agrícola, habitação e saneamento rural, sem negligenciar as demandas urbanas, como habitação e emprego.
A coordenadora Marta Antunes destaca que diferenciar as condições de vida entre áreas rurais e urbanas é crucial para direcionar políticas públicas eficazes. Ela aponta que soluções de infraestrutura devem ser adaptadas às necessidades específicas de cada contexto.
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